Os serviços de inteligência da Rússia vêm utilizando Bitcoin para pagar espiões adolescentes e sem treinamento, de acordo com uma investigação da Reuters realizada em parceria com as empresas de análise de blockchain Global Ledger e Recoveris.
Um relatório da Reuters detalhou o caso recente de Laken Pavan, cidadão canadense que, em dezembro, foi condenado a 20 meses de prisão na Polônia após se declarar culpado de colaborar com a inteligência russa.
O Serviço Federal de Segurança da Rússia (FSB) recrutou Pavan no final de abril de 2024, depois que o canadense — então com 17 anos — viajou para Donetsk para se voluntariar às Interbrigadas pró-Rússia, após ter se radicalizado online ao longo de 2023.
Em Donetsk, agentes do FSB detiveram Pavan por vários dias, usando ameaças para recrutá-lo como espião e, em seguida, designando-lhe um contato conhecido apenas como “Slon” (palavra russa para “elefante”).
Os agentes disseram a Pavan que ele viajaria por vários países da Europa, incluindo a Ucrânia, para coletar informações que seriam repassadas a Slon.
De Donetsk, Pavan seguiu para Istambul e depois para Copenhague, onde recebeu de Slon um pagamento em Bitcoin no valor de pouco mais de US$ 500.
Em 22 de maio, um dia após receber os pagamentos em Bitcoin, Pavan viajou para Varsóvia, onde se entregou às autoridades polonesas.
Seguindo o rastro do Bitcoin
Foi aí que terminou a breve carreira de Pavan como espião russo, mas a Global Ledger e a Recoveris conseguiram rastrear os US$ 500 em Bitcoin enviados por Slon até duas carteiras intermediárias de BTC, que por sua vez haviam recebido centenas de milhares de dólares em Bitcoin de um grande endereço criado em junho de 2022.
A investigação também revelou que as transferências de e para essas carteiras ocorreram durante o horário comercial de Moscou, e que a maior carteira analisada já processou um total de US$ 600 milhões em Bitcoin.
Essa mesma carteira também havia enviado fundos para a Garantex — corretora russa sancionada — e, segundo a Global Ledger, parece ser financiada por um “grande pool de mineração e serviço de custódia”.
Embora nem a Global Ledger nem a Recoveris tenham conseguido identificar com certeza a propriedade da carteira principal (ou das duas intermediárias), ambas apontam para uma provável ligação com o FSB.
“As transações de carteiras ligadas ao FSB seguem um padrão estruturado de lavagem de dinheiro, com divisão de fundos, mistura com quantias maiores e roteamento por carteiras de depósito desconectadas”, explicou a Global Ledger em seu relatório para a Reuters.
Rede de espionagem cripto da Rússia
Embora o caso de Laken Pavan seja apenas um exemplo, a Recoveris disse ao Decrypt que vem observando como as agências de inteligência e segurança da Rússia “estão constantemente financiando” agentes com criptomoedas.
“Esse método já foi descoberto em várias ocasiões; por exemplo, em 2023, um grupo de jovens bielorrussos e ucranianos baseado na Polônia foi financiado pelo GRU com criptomoedas”, afirmou o CEO da Recoveris, Marcin Zarakowski.
Segundo Zarakowski, os jovens espiões tinham como missão instalar câmeras em uma importante rota ferroviária entre a Polônia e a Ucrânia, pichar muros com propaganda política para aumentar divisões na sociedade polonesa e publicar notícias falsas.
Desde então, muitos outros casos de pagamentos em criptomoedas realizados pelo GRU e pelo FSB foram identificados na Polônia, inclusive com ativos sendo usados para financiar atos de incêndio criminoso.
“Com base na inteligência contínua da Recoveris, podemos ver que carteiras do GRU/FSB estão ativas regularmente”, explicou Zarakowski. “Por exemplo, um endereço identificado como ligado ao FSB pertence a um cluster de 161 carteiras de Bitcoin com centenas de transações de saída — quase todas dentro do horário comercial de Moscou, das 6h às 18h.”
O uso de criptomoedas pela Rússia também se estende ao financiamento de mercenários privados que atuam na região de Donbas ao lado das forças russas na guerra contra a Ucrânia, e até mesmo ao pagamento de políticos na Europa para disseminar mensagens pró-Rússia e anti-Ucrânia.
Dado o amplo conjunto de sanções impostas à Rússia e a entidades russas, é provável que o FSB e outras agências continuem usando criptomoedas por um bom tempo.
“A vantagem de usar Bitcoin ou criptomoedas para pagar agentes ou ativos é que qualquer valor — mesmo milhões de dólares — pode ser transferido instantaneamente para qualquer lugar do mundo, sem barreiras governamentais, exceto na conversão para moeda fiduciária”, disse Zarakowski.
Além disso, o aparato de inteligência russo também se beneficia da transparência proporcionada pelas criptomoedas.
“Agentes superiores e responsáveis podem monitorar o fluxo de cripto”, acrescentou Zarakowski. “Tudo o que for gasto pelos agentes pode ser auditado para garantir que está sendo usado para fins operacionais.”
* Traduzido e editado com autorização do Decrypt.
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