Stablecoins de real já movimentam bilhões e mercado tem disputa acirrada de quatro projetos

Se stablecoins são o grande tema do mercado de criptomoedas atualmente, com direito a lei sobre o setor aprovada nos Estados Unidos, o Brasil não iria ficar de fora. Ainda que as versões atreladas ao dólar sejam as maiores do mundo, as moedas estáveis de real já movimentam grandes quantias anualmente aqui no país.

Um estudo recente da Iporanga Ventures mostra que as stablecoins de real movimentaram cerca de R$ 5 bilhões em 2024, um avanço que acompanha a digitalização das transações financeiras e a crescente familiaridade dos brasileiros com moedas digitais.

Já um levantamento da Coinbase Data, em abril, mostrou que o Brasil tem a terceira moeda que mais movimenta transações em cripto no planeta, atrás apenas do dólar e do euro. Esse protagonismo não se deve apenas ao aumento do número de investidores, mas também ao avanço de soluções que utilizam o real de forma tokenizada, permitindo que ele circule em ambientes digitais globais com estabilidade e liquidez.

Lembrando que stablecoins, ou “moedas estáveis”, são criptomoedas pareadas em algum ativo estável ou cesta de ativos, de modo a seguir seu preço. As mais famosas são as atreladas ao dólar, caso da Tether (USDT) e a USDC, da Circle.

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O BRZ, emitido pela Transfero desde 2019, é a stablecoin de real mais consolidada e antiga, mas não tem a liderança na utilização, algo que ela tinha até mais ou menos um ano atrás. Agora, o mercado está bem mais fragmentado, com outras quatro grandes soluções de stablecoins em real brigando pela liderança mês a mês: cREAL, BRLA, BRL1 e BBRL, como mostra o levantamento da Iporanga.

“O mercado ainda é muito grande para dizermos que apenas uma ou duas empresas deveriam dominar. A questão é a credibilidade. Conforme o tempo passar, veremos empresas ou ativos desaparecendo e outros surgindo”, afirma Márlison Silva, CEO da Transfero.

A BRL1, é uma das stablecoins de real mais novas, lançada no início deste ano, mas chegou já com a chancela de ser criada por consórcio formado de algumas das maiores empresa do setor cripto nacional: Foxbit, Mercado Bitcoin, Bitso e Cainvest. E apesar de recente, ela já registra volumes diários acima de US$ 1 milhão (mais de R$ 5 milhões) e deve ultrapassar R$ 100 milhões em volume emitido ainda este ano.

“Ao contrário de uma moda passageira, as stablecoins se tornam uma infraestrutura real, eficiente e em crescimento”, afirma Thomaz Teixeira, CEO do consórcio BRL1, acrescentando que a moeda foi projetada para ser compatível com o Drex e integrada a sistemas como o Pix.

Já a BBRL, também criada em 2025 pelo Braza Group, aposta na blockchain XRP Ledger. Segundo a empresa, a meta é capturar 30% do mercado de stablecoins de real, aproveitando o avanço das discussões regulatórias sobre ativos digitais no país.

Por que usar uma stablecoin de real?

Apesar de o mercado global ainda ser amplamente dominado por stablecoins em dólar, como USDT e USDC, as alternativas em real vêm ganhando espaço justamente por oferecerem uma solução local estável e conectada à economia brasileira.

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Muitas vezes não é interessante para um investidor manter suas economias expostas à flutuação cambial. Já para empresas com negócios no Brasil, a movimentação de valores ainda precisa ser em reais para fins fiscais e de contabilidade. Por isso, ter uma stablecoin na moeda nacional facilita muito.

“O uso de uma stablecoin em real permite operar com mais eficiência local e integração com o ecossistema financeiro brasileiro”, explica Charles Aboulafia, CEO da Cainvest, destacando que essa estrutura evita a exposição cambial e facilita o uso do real em ambientes descentralizados.

Já para Márlyson Silva, “não adianta você dolarizar todos os seus ativos porque ele é volátil. Então o usuário daquele de um ativo em dólar pode ganhar ou perder dinheiro todos os dias”. “Você digitalizando a economia local utilizando uma stablecoin em real facilita uma visão de longo prazo e principalmente de gestão financeira e tesouraria sobre o volume financeiro que você está carregando naquele ativo.”

Além da segurança do lastro, outro atrativo das stablecoins é a disponibilidade de transações 24 horas por dia, sem limitações de horários bancários, e a possibilidade de programar pagamentos e contratos inteligentes em blockchain. Essas características ampliam seu uso em pagamentos internacionais, remessas e liquidação de operações comerciais, oferecendo custos mais baixos e maior velocidade em comparação com métodos tradicionais.

No caso brasileiro ainda existe uma outra questão que intriga investidores e usuários de stablecoins, que é o futuro lançamento do Drex, anunciado originalmente como o real digital, mas que hoje é apontado como uma infraestrutura que deve revolucionar o sistema financeiro com uso de blockchain e outras soluções.

O Banco Central projeta que o Drex sirva como infraestrutura regulada para a tokenização de ativos, liquidação de operações e execução de contratos inteligentes. Isso pode ser visto como uma ameaça ao uso de moedas digitais de real. Mas não é essa a visão dos executivos por trás das stablecoins.

Para Teixeira, da BRL1, não há conflito direto entre os dois modelos: “O Drex e as stablecoins têm funções complementares. O Drex será a base de uma nova infraestrutura para bancos e fintechs. Já a BRL1 traz agilidade, inovação e interoperabilidade com o mundo descentralizado”.

Confiabilidade e domínio do mercado

A estabilidade de uma stablecoin depende diretamente de como ela garante sua paridade com a moeda à qual está atrelada. No caso das stablecoins de real, essa confiança é assegurada pela manutenção de reservas equivalentes ao valor total de tokens emitidos, que podem estar depositadas em moeda fiduciária, títulos públicos ou mesmo ativos digitais, dependendo do modelo de cada projeto.

Essas reservas funcionam como um “colchão de segurança”: sempre que um usuário deseja resgatar sua stablecoin pelo valor correspondente em reais, o emissor pode honrar a operação com base nesses ativos.

O cREAL, por exemplo, utiliza reservas em ativos digitais, como Bitcoin (BTC), Ether (ETH) e Celo (CELO), o que o torna mais exposto à volatilidade do mercado cripto, mas também mais integrado ao ecossistema descentralizado. O BRZ mantém reservas em moeda fiduciária (real) e títulos financeiros, como títulos públicos, com auditoria independente para comprovar a solvência.

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A BRLA, por sua vez, é lastreada exclusivamente em moeda fiduciária, oferecendo simplicidade na gestão das reservas. Já a BRL1 adota uma estrutura híbrida: seu lastro é majoritariamente composto por títulos públicos federais (LFTs), complementado por operações compromissadas (repos) e reservas em reais em instituições financeiras, buscando unir segurança e liquidez.

Essa diversidade de modelos reflete diferentes estratégias de gestão de risco e liquidez, mas em todos os casos a manutenção da confiança do usuário depende da transparência na divulgação das reservas, de auditorias regulares e da capacidade comprovada de conversão imediata para reais sempre que solicitado. Por isso o investidor deve cobrar dados públicos e ficar sempre atento ao site de cada moeda para avaliar essas informações.

E esse tipo de dado pode ser decisivo para a consolidação do mercado e até mesmo na disputa para ver quem vai sobreviver entre as soluções concorrentes. “Vamos observar uma consolidação natural, assim como aconteceu em outras tecnologias. As stablecoins que tiverem lastro confiável, auditoria transparente, volume significativo e parcerias estratégicas tendem a se destacar. O mercado vai valorizar estabilidade, governança e interoperabilidade”, afirma Teixeira.

Já Arthur Carvalho, especialista de ativos digitais do Braza Group, avalia que o mercado deve passar por um processo natural de consolidação, em que poucas stablecoins concentrem a maior parte do volume global, mas sem significar o desaparecimento das demais.

“Diferentes modelos de negócio e necessidades específicas continuarão gerando demanda por stablecoins distintas, seja por requisitos regulatórios, seja por integrações locais ou segmentação de público”, diz o executivo da empresa por trás da BBRL, citando que haverá espaço para stablecoins especializadas, voltadas a nichos e casos de uso específicos.

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