O canadense Peter Todd, um dos desenvolvedores pioneiros do Bitcoin, é amplamente respeitado pela comunidade de criptomoedas. Mas o que realmente chama a atenção é sua abordagem singular em relação à segurança de seus ativos digitais: há pelo menos 13 anos, ele optou por armazenar os códigos de acesso aos seus bitcoins em uma “carteira cerebral” — ou seja, memorizando as informações em vez de registrá-las fisicamente.
Para Todd, o segredo é não tentar memorizar tudo de uma vez, argumentando – e sendo óbvio – que “as pessoas costumavam ter dezenas de números de telefone na cabeça, memorizados um de cada vez”.
O método de memorização adotado por Todd foi revelado há bastante tempo, em agosto de 2012, numa época em que as frases-semente ainda nem haviam sido implementadas. Ainda assim, fica a pergunta: se não for Peter Todd, qual outro bitcoiner hoje teria a ousadia de confiar todos os códigos de acesso exclusivamente à própria memória?
Veja como replicar o método
Peter Todd detalhou o seu método em uma publicação no tópico ‘Making a brain wallet “cheat sheet”’ (criando uma carteira cerebral “colinha”) feita no lendário fórum Bitcointalk, em 06 de agosto de 2012.
Veja abaixo:
“1) Gere uma senha que você consiga lembrar individualmente. Pessoalmente, eu uso o programa pwgen, que produz “senhas pronunciáveis”. Eu o uso no modo de 8 letras maiúsculas/numerais/símbolos.
2) Anote a senha. Sim, isso é heresia; você a destruirá com segurança mais tarde.
3) Memorize a senha. Isso é muito mais fácil do que você pensa. Descobri que, se eu passar 5 minutos por dia memorizando uma senha, consigo me lembrar dela facilmente em uma semana ou mais, e provavelmente a memorizei de forma praticamente permanente depois de um ou dois meses. Lembra de estudar na universidade? Use essas técnicas. Flashcards são muito eficazes; uma parte importante da memorização é ser forçado a lembrar o que você está tentando memorizar.
4) Repita até ter 5 senhas diferentes memorizadas. Durante esse processo, ajuda fazer algo como criptografar arquivos diferentes com as subsenhas e praticar a descriptografia para garantir que você não esqueça as partes individuais. Isso também permite que você evite ter cópias de partes da senha se for paranoico.
5) Pegue todas as cinco senhas e interligue-as em uma única super senha: eiS9ui@R + vi4Ug~ee + Aetito0 + ohB$oh9w + Roh”k2ie = eiS9ui@Rvi4Ug~eeAetito0ohB$oh9wRoh”k2ie
6) Use esta senha! Eventualmente, você a esquecerá, embora o tempo que leva para esquecê-la diminua exponencialmente quanto mais você a usar. No meu caso, faço questão de usar minhas senhas todo mês, mais ou menos. Até mesmo lembrá-las mentalmente já é suficiente.
Esta senha final agora tem 40 caracteres. Quão segura ela é? Queremos pelo menos 128 bits de entropia para tornar inviável o uso de força bruta na senha.
Bem, para tornar a senha pronunciável, o pwgen filtra combinações de letras impronunciáveis, o que, grosso modo, significa que as vogais são separadas por constantes. Para fins de análise, digamos que temos um formato vCvCvCvC estrito; o algoritmo atual permite mais possibilidades. Assim, cada senha de 8 caracteres se divide em 4 pares, cada um com 105 combinações possíveis. log((105^4)^5)/log(2)=134, ou seja, temos 134 bits de entropia. Ótimo!
Um caractere maiúsculo por senha adiciona cerca de 8 possibilidades a mais. Um numeral adiciona aproximadamente mais 8*10 e um símbolo adiciona 8*32. log((105^4*8*8*10*8*32)^5)/log(2)=221 bits de entropia – quase o nível padrão ouro de 256 bits que a criptografia moderna fornece.
O segredo é não tentar memorizar tudo de uma vez. Divida a tarefa em algumas subtarefas, ou seja, subsenhas, e memorize-as uma após a outra. As pessoas costumavam ter dezenas de números de telefone na cabeça, memorizados um de cada vez.
O famoso quadrinho de força de senha do xkcd ( http://xkcd.com/936/) também é um bom conselho, claro, embora para uma senha criptografada você precise de algo como 12 palavras escolhidas aleatoriamente. O que quero dizer é que, mesmo fazendo as coisas “do jeito mais difícil”, é mais fácil inventar uma senha realmente boa do que as pessoas imaginam. Você só precisa confiar que realmente consegue aprender.
As pessoas costumavam decorar livros inteiros, palavra por palavra. Atores ainda decoram centenas de falas para peças longas, o tempo todo. Não é tão difícil assim.
Claro, sejamos realistas, o cidadão comum não vai fazer nada disso…”
Quem é Peter Todd?
No ano passado, a Forbes traçou um pouco do perfil de Peter Todd após o documentário “Money Electric: O Mistério do Bitcoin”, da HBO, apontar Todd como o misterioso criador do Bitcoin, Satoshi Nakamoto — embora pouquíssimas pessoas acreditem nesta teoria.
Peter Todd começou a contribuir com o código do Bitcoin em 2012. Ele também é o fundador do OpenTimestamps, um projeto de código aberto desenvolvido para fornecer um formato padrão para registro de data e hora em blockchain.
Ele esteve envolvido em projetos conhecidos como “bitcoin 2.0”, incluindo o Counterparty — uma tentativa pioneira de trazer NFTs para a blockchain em 2014 —, um ICO chamado Mastercoin e o Colored Coins — um experimento que lembra o protocolo Ordinals.
Além disso, Peter Todd participou do lançamento da criptomoeda de privacidade Zcash em 2016, junto com o denunciante da NSA, Edward Snowden, “destruindo publicamente o computador que ele usou para criar a criptomoeda”.
Em 2019, Peter Todd foi acusado de má conduta sexual pela especialista em tecnologia de privacidade Isis Lovecruft, desenvolvedora do Tor, encerrando seu processo de difamação aberto em resposta à alegação em 2020.
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