Desenvolvedores do Bitcoin afirmaram em uma atualização no GitHub que a próxima versão 30.0 do Bitcoin Core, que será lançada em outubro deste ano, aumentará o limite padrão para transações de dados OP_RETURN dos atuais 80 bytes para quase 4 MB, encerrando a discussão do limite imposto pelo tamanho do bloco do Bitcoin.
Bitcoin Core é o software mais utilizado para operar nós na rede Bitcoin. Essencial para o funcionamento do ecossistema, o programa é usado para validar transações, propagar blocos e manter a integridade do sistema descentralizado que sustenta a maior criptomoeda do mundo.
Esta decisão marca uma vitória significativa para a um grupo de devs reformista liderado por Antoine Poinsot em seu longo debate com figuras conservadoras como o desenvolvedor Luke Dashjr –que se opôs consistentemente à flexibilização dos limites, classificando a medida como potencialmente prejudicial.
Dashjr chegou a incentivar os usuários a evitar a atualização para a nova versão ou a adotar implementações alternativas de nós, como Bitcoin Knots, relembra uma publicação do CoinDesk.
Em resumo, nos últimos meses, os críticos do aumento do limite do OP_RETURN argumentaram que a remoção do limite poderia incentivar o aumento da incorporação de dados arbitrários, potencialmente levando a spam na rede – armazenamento de conteúdos maiores, como textos e imagens, indo além do uso tradicional – e a uma mudança da abordagem do Bitcoin, cuja função primária é a de uma ferramenta financeira.
Alguns argumentam que adicionar esses dados de transação seria arbitrário, contradizendo a visão original do blockchain do Bitcoin, conforme proposto por Satoshi Nakamoto.
A versão Core 30 manterá as opções de controle manual, permitindo que os usuários imponham limites mais rigorosos por meio de parâmetros de linha de comando existentes. No entanto, essas opções agora estão marcadas como obsoletas e dispararão mensagens de aviso, indicando possível remoção em atualizações futuras sem um cronograma definido.
OP_RETURN
No mês passado, o desenvolvedor brasileiro Bruno Garcia, colaborador do Bitcoin Core, explicou de forma simples ao Portal do Bitcoin sobre o que estava acontecendo.
“Digamos que o OP_RETURN seja uma das possibilidades de colocar dados arbitrários na blockchain do Bitcoin, entretanto, há um limite”, explica Bruno. “A discussão está sobre manter ou retirar de vez esse limite no Bitcoin Core.”
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Sobre preocupações com o iminente aumento de dados armazenados na blockchain, Garcia disse na época que não vê riscos técnicos ou de segurança na mudança.
“Não traz nenhum risco, apenas o ‘risco’ das pessoas usarem essa falta de limite para colocar ainda mais dados na blockchain. Entretanto, não há problema nisso, pois o Bitcoin funciona num livre mercado.”
O debate reflete as controvérsias de 2023 , principalmente em torno de Ordinais e Inscrições, quando usuários incorporaram dados não financeiros substanciais, como imagens e texto, em transações de Bitcoin, gerando preocupações semelhantes sobre o uso indevido da blockchain e congestionamento de rede.
Bitcoin Core e a política de retransmissão de transações na rede
Em meio à discussão, 31 devs, incluindo o brasileiro Bruno Garcia, assinaram no último dia 6 de junho uma carta sobre a relação entre o desenvolvimento do Bitcoin Core e a política de retransmissão de transações na rede.
Nela, os desenvolvedores do Bitcoin Core explicam que, como o Bitcoin é uma rede descentralizada, os usuários têm total liberdade para escolher o software e as políticas que desejam seguir.
Conforme os devs, o Bitcoin Core não impõe atualizações automáticas, preservando essa autonomia. O foco do software é validar e retransmitir transações de forma eficiente, sem bloquear transações com demanda econômica legítima, mesmo que envolvam usos não convencionais. Restringir essas transações pode prejudicar a descentralização, forçando usuários a buscar canais alternativos, argumentam.
Embora não endossem todos os usos possíveis da rede, os desenvolvedores acreditam que a resistência à censura é essencial e continuarão ajustando as regras de forma técnica e responsável para garantir o bom funcionamento da rede.
Bitcoin Core 29.0
A versão atual do Bitcoin Core – 29.0 – foi lançada em abril deste ano. Entre as mudanças mais relevantes foi a correção de um erro técnico que impedia a mineração de blocos no tamanho máximo permitido pelas regras da rede.
Antes disso, mesmo com a configuração correta, os blocos minerados ficavam levemente abaixo do limite de 4 milhões de unidades de peso. Para funcionar, os mineradores precisaram ajustar os parâmetros adequadamente.
A versão 29.0 marcou também o fim do suporte ao protocolo UPnP, utilizado para abrir portas automaticamente no roteador, substituído por métodos mais modernos e seguros como NAT-PMP e PCP. Isso aumenta a confiabilidade da conexão de nós com a rede, reduzindo riscos de segurança associados ao UPnP.
Outra melhoria importante foi para usuários que utilizam o Bitcoin Core em conjunto com a rede Tor, voltada à privacidade. Agora, o software ajusta automaticamente as portas usadas para conexões anônimas quando há múltiplos nós em execução, resolvendo conflitos de rede que existiam na versão anterior.
O Bitcoin Core 29.0 também introduziu o conceito de “poeira efêmera” (ephemeral dust), permitindo que transações contenham pequenas quantidades de bitcoin (conhecidas como “dust”) sem que isso gere congestionamento na rede — desde que essas transações sejam feitas com taxa zero e dentro de um pacote de transações que gaste esses valores simultaneamente.
Outras mudanças técnicas incluíram melhorias na resposta a transações órfãs, atualizações nas chamadas de sistema usadas por desenvolvedores e ajustes no processo de compilação do software, que agora utiliza o sistema CMake, mais moderno e flexível.
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