Das salas de reuniões às planilhas contábeis, o Bitcoin deixou de ser apenas uma aposta — está se tornando parte da estratégia financeira corporativa.
Um grupo pequeno, porém crescente, de empresas está alocando partes de seus tesouros corporativos na principal criptomoeda por valor de mercado. O objetivo vai além da proteção de ativos e da diversificação fora das finanças tradicionais — é também uma forma de sinalizar uma postura visionária.
O que são tesouros corporativos, afinal?
Um tesouro corporativo refere-se aos ativos financeiros de uma empresa, incluindo dinheiro em caixa, ações e investimentos.
Para preservar capital e manter liquidez, uma empresa normalmente aplica o excedente de caixa em instrumentos como títulos do governo ou fundos de mercado monetário, considerados de baixo risco. No entanto, um número crescente de empresas está recorrendo ao Bitcoin como ativo alternativo.
“Qualquer ativo mantido costuma ter o objetivo de ser contracíclico em relação ao restante da economia”, disse James Davis, cofundador da plataforma de mercado futuro de criptomoedas Crypto Valley Exchange, ao Decrypt.
“Reservas estratégicas servem para neutralizar os ciclos econômicos”, afirmou. “O que importa não é apenas a valorização do preço, mas como o ativo se comporta durante períodos de retração.”
Este artigo examina como as empresas estão mudando o foco para o Bitcoin e o integrando às suas estratégias de tesouraria para proteger contra a inflação, preservar valor e aumentar a resiliência financeira.
Por que manter Bitcoin como ativo de tesouraria corporativa?
O número de empresas que mantêm Bitcoin continua crescendo. A Strategy (anteriormente MicroStrategy) saiu na frente ao acumular BTC agressivamente sob a liderança de seu presidente, o entusiasta do Bitcoin Michael Saylor, a partir de 2020.
A tendência ganhou força quando Saylor compartilhou sua estratégia de Bitcoin com a Tesla no final daquele ano, e a fabricante de veículos elétricos comprou US$ 1,5 bilhão em BTC em fevereiro de 2021.
Empresas como a plataforma de streaming Rumble e a varejista de videogames GameStop também aderiram à tendência. Em maio de 2025, ambas adicionaram — ou estão em processo de adicionar — Bitcoin aos seus tesouros corporativos, marcando mais um passo na adoção mainstream da criptomoeda.
No Brasil também há empresas seguindo essa estratégia: a Méliuz, empresa até então focada em cashback, se autodenominou a primeira empresa da América do Sul com tesouraria em Bitcoin após investir mais de R$ 161 milhões na criptomoeda.
Teoria dos jogos
A teoria dos jogos pode ajudar a explicar esse impulso, sugerindo que, à medida que mais empresas adotam o Bitcoin, outras se sentem pressionadas a fazer o mesmo — não necessariamente por convicção, mas para manter a competitividade na percepção pública.
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Empresas que criam tesouros de Bitcoin frequentemente citam a natureza descentralizada e o fornecimento fixo da criptomoeda como uma proteção contra inflação, desvalorização cambial e a queda dos rendimentos de aplicações tradicionais.
“Para a maioria das empresas que estão entrando no Bitcoin, é difícil ver essas iniciativas como algo além de uma jogada de marketing”, afirmou o Dr. Matthew Stephenson, chefe de pesquisa da gestora de capital de risco Pantera Capital, ao Decrypt.
“A jogada mais estratégica, além de parecer descolada para os entusiastas de Bitcoin, é responder aos investidores que vivem perguntando: ‘O que vocês estão fazendo com novas tecnologias? Com cripto?’ Manter Bitcoin serve para isso.”
Quais empresas mantêm Bitcoin como ativo de tesouraria?
A tendência está ganhando força. Em maio de 2025, as empresas de capital aberto dos EUA que mantinham Bitcoin em seus tesouros incluíam:
- Strategy: 580.250 BTC, aproximadamente US$ 64 bilhões
- Marathon Digital Holdings: 48.237 BTC, aproximadamente US$ 5,3 bilhões
- Riot Platforms: 19.211 BTC, aproximadamente US$ 2,1 bilhões
- Tesla: 11.509 BTC, aproximadamente US$ 1,3 bilhão
- Coinbase: 9.267 BTC, aproximadamente US$ 1 bilhão
Como as empresas mantêm Bitcoin em seus tesouros?
Manter Bitcoin vai além de simplesmente transferir BTC para uma carteira. Empresas normalmente utilizam serviços de custódia — empresas especializadas no armazenamento e segurança de ativos digitais.
Coinbase Custody, BitGo e Fidelity Digital Assets oferecem segurança de nível institucional, incluindo armazenamento a frio, carteiras com múltiplas assinaturas e seguro.
No entanto, manter Bitcoin não elimina os riscos e incertezas do mercado.
“A volatilidade das criptomoedas as torna altamente imprevisíveis em comparação com ativos tradicionais”, afirmou James Davis, da Crypto Valley Exchange. “Elas também são procíclicas, o que significa que tendem a perder valor justamente quando o mercado mais precisa de liquidez, tornando-as um ativo de reserva arriscado.”
O futuro dos tesouros corporativos de Bitcoin
Com as preocupações inflacionárias persistindo e os ativos digitais ganhando credibilidade, mais empresas estão recorrendo ao Bitcoin como parte estratégica da gestão de tesouraria.
A empresa de biotecnologia Atai Life Sciences anunciou planos para adotar um tesouro de Bitcoin em março de 2025. Dois meses depois, a gestora Strive Asset Management — cofundada por Vivek Ramaswamy — também revelou planos de acumular a criptomoeda.
Empresas como a firma de investimentos japonesa Metaplanet e a fabricante de dispositivos médicos Semler Scientific continuam aumentando suas participações. Em maio de 2025, o Financial Times divulgou que a Trump Media planeja levantar US$ 3 bilhões para comprar Bitcoin e outros ativos digitais.
Embora a iniciativa da Strategy de acumular Bitcoin como reserva de valor de longo prazo tenha influenciado outras empresas, muitas — inclusive do setor de criptoativos — permanecem hesitantes devido à volatilidade do ativo.
Em maio de 2025, o CEO da Coinbase, Brian Armstrong, revelou que a empresa chegou a considerar alocar 80% de seu balanço patrimonial em Bitcoin, mas desistiu da ideia por temer que a decisão “pudesse matar a empresa”.
Apesar da aversão ao risco de algumas companhias, analistas da Bernstein argumentaram em relatório publicado em maio de 2025 que os tesouros corporativos acumularão US$ 330 bilhões em Bitcoin até 2029.
* Traduzido e editado com autorização do Decrypt.
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