Apesar do crescimento das stablecoins como meio de pagamento, o Bitcoin segue sendo o ativo preferido no país, com os brasileiros sendo os mais “bitcoiners” da América Latina, segundo Bárbara Espir, CEO da Bitso no Brasil.
“É impressionante o nível de interesse por Bitcoin no Brasil. Quando o preço sobe, é aqui que a gente vê o maior impacto. Os brasileiros são muito mais maximalistas do que os usuários em outros países”, afirmou ela em entrevista ao Portal do Bitcoin.
A executiva, que lidera a operação brasileira da corretora mexicana desde 2022, enxerga uma diferença clara entre o comportamento dos usuários latino-americanos.
“Na Argentina, o foco é proteção contra inflação: as pessoas convertem pesos em stablecoins para preservar valor. No México, eles gostam de diversificar o portfólio e usar cripto para fazer remessas. Já o brasileiro, tem um comportamento muito voltado para o Bitcoin como investimento.”
Segundo ela, esse perfil também reflete a cultura financeira do país. “Aqui não existia, até pouco tempo atrás, o hábito de ter exposição ao dólar. Só recentemente começaram a surgir produtos como contas globais. Isso afeta até o mercado cripto. Enquanto em outros países as pessoas já usam stablecoins como reserva, aqui ainda há muito desconhecimento.”
O espaço das stablecoins no mercado brasileiro
Apesar do entusiasmo com o Bitcoin, são as stablecoins que têm ganhado terreno entre os clientes corporativos da Bitso. “Para fins de pagamento, especialmente entre empresas, o uso de stablecoins é astronômico. A diferença de volume é gigantesca. Ninguém faz pagamento em Bitcoin, claro, por causa da volatilidade”, afirma Espir.
Ela explica que o Brasil tem avançado pouco no uso cotidiano de cripto como meio de pagamento, com o Pix sendo um dos principais motivos. “Antes do Pix, até pensamos em lançar produtos para pagamentos com cripto no dia a dia. Mas mesmo naquela época, o sistema bancário já era muito eficiente. Não tinha demanda. Em outros países, onde o sistema tradicional é ruim, isso pega muito mais.”
Espir destaca que os pagamentos internacionais com stablecoins são atualmente a frente mais promissora da corretora. Com a vertical Bitso Business, a empresa já opera transferências cross-border com stablecoins e infraestrutura própria. “Queremos cada vez mais oferecer soluções para importação, exportação e remessas. A infraestrutura de pagamentos entre países é ultrapassada, cheia de intermediários e muito cara.”
Ela vê um futuro cada vez mais orientado a fluxos 100% on-chain. “Em alguns casos, o exportador recebe direto na carteira e faz a conversão por conta própria. Não há necessidade de banco parceiro. É mais eficiente, mais rápido e muito mais barato.”
O uso de stablecoins como forma de investimento também é uma aposta da executiva, especialmente em países com dificuldade de acesso a produtos em dólar. “No Brasil, ainda é difícil investir em dólar. Se conseguirmos educar o público, stablecoin com rendimento pode ser uma excelente alternativa.”
Regulação como divisor de águas
Com cerca de 140 funcionários no Brasil, a Bitso busca se diferenciar de outras concorrentes estrangeiras ao evitar ser apenas “uma corretora global com o site traduzido em português”, segundo Espir. Para isso, aposta no engajamento com temas relevantes do mercado local, como a regulação.
A executiva vê com otimismo o avanço da criação de regras para o mercado de criptoativos no Brasil, liderada pelo Banco Central. “O marco legal foi um avanço enorme, e agora as consultas públicas — especialmente a 109, 110 e 111 — mostram que o BC está escutando o setor. A gente tem reuniões frequentes com eles, diretas e via associações.”
Ela pondera que ainda há pontos sensíveis sendo debatidos, como regras de custódia e limites para transações cambiais. “A proposta de limite é mais baixa que a do mercado tradicional, o que preocupa. Mas o BC tem dado sinais de abertura e, no geral, a expectativa é positiva.”
Para ela, a nova regulação pode ser um divisor de águas. “Vai trazer mais confiança, atrair um público mais tradicional e impulsionar o uso institucional de cripto.”
O espaço das mulheres em cripto
Única mulher CEO de uma empresa cripto com sede no Brasil, Bárbara Espir não foge do tema da diversidade — e faz questão de tratá-lo com franqueza.
“O mercado é dominado por homens, ainda mais em cripto. Muitas mulheres têm medo de falar sobre dinheiro, de investir, e isso vem da forma como fomos educadas. Em muitas casas, o dinheiro é assunto para o filho, não para a filha.”
Ela defende que mais mulheres sejam encorajadas a ocupar cargos de liderança — e que as empresas ofereçam a estrutura necessária para isso. “As empresas exigem muito, mas encontrei um ambiente que me permite crescer, ser mãe, ter uma vida. É isso que queremos replicar internamente.”
Para ela, a diversidade se tornou uma condição para a inovação, indo além de metas e números. “Você não consegue inovar se todo mundo é igual, se tem o mesmo histórico. Cripto nasceu para romper paradigmas, e só consegue fazer isso com pluralidade de visões.”
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